Não há gabarito, na hora das apostas para definições dos premiados no 97º Oscar. Ainda assim, críticos experientes como Neusa Barbosa (editora do Cineweb), Inácio Araujo (Folha de S. Paulo) e José Geraldo Couto (do blog de cinema do Instituto Moreira Salles) arriscam antever prêmios movidos, ora por gosto pessoal, ora por visão da conjuntura típica no comportamento da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
"Acho que Anora leva melhor filme, especialmente por ter vencido a premiação do Sindicato dos Produtores dos EUA", aponta Neusa, ao que Inácio completa: "Anora pode levar o prêmio de roteiro original por ser um filme bem interessante, original e que revitaliza o gênero da comédia maluca, comum sobretudo nos anos 1930 e 1940. As qualidades inegáveis e o equilíbrio entre drama, aventura e "comédia de erros, com um leve toque de erotismo" favorecem Anora como melhor filme, na opinião de José Geraldo Couto.
Entre as atrizes a aposta dominante é em torno de Demi Moore, por A substância. "Considero a Fernanda Torres uma atriz muito superior, mas Hollywood adora essas 'reparações' e 'histórias de superação', além da valorização da luta contra o etarismo", destaca José Geraldo. A incógnita da "impecável" Fernanda alcança os outros especialistas. "Pelo indicador do SAG, acho que Demi Moore deve levar. Mas não acho que Fernanda Torres não tenha chance nenhuma: os votos podem ter se dividido entre Demi e Mikey Madison (de Anora), favorecendo Fernanda. Quem sabe?", pontua Neusa. "Fernanda está bastante bem no papel da Eunice Paiva, mas acho que Hollywood pode querer lançar uma nova estrela como Mickey Madison", opina Inácio Araujo.
No quesito ator, há quase consenso no voo de Timothée Chalamet (o Bob Dylan de Um completo desconhecido). "Você passa o filme vendo o ator, mas tendo a sensação de estar vendo o Bob Dylan", diz Inácio. A personificação "mimética", segundo José Geraldo, também convenceu Neusa Barbosa. Balizada pelo resultado do Sindicato dos Diretores dos EUA, "um indicador bem seguro", Neusa crê ainda na premiação do diretor Sean Baker, de Anora.
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Descrente dos concorrentes a filme internacional (na disputa contra o Brasil), Inácio Araujo demarca: "Ainda estou aqui tornou-se um filme importantíssimo para o Brasil, pela repercussão que ele teve não só no exterior. Aqui, hoje, ele é um fato social: tem pessoas que nunca ouviram falar de ditadura e o filme merece uma atenção grande. Emilia Pérez me parece um filme mais original que faz você cair da cadeira. Um brutamontes, chefe de gangue mexicana, e que ser transforma em mulher, num musical?. Qualquer um dois poderia ganhar".
Para Neusa, há uma escalada em jogo. "Aposto muito no filme brasileiro, por toda a campanha e repercussão que o filme teve a partir do prêmio de roteiro em Veneza, e que ganhou mais destaque com o Globo de Ouro para Fernanda Torres. Poucas vezes vi uma campanha tão bem-feita e cuidadosa como a Sony fez para o filme, que foi lançado nos EUA e em vários países europeus, acumulou muitos prêmios e manteve o foco. Fernanda também vem sendo super-importante, dando entrevistas em órgãos relevantes, falando bem inglês, mostrando-se divertida e inteligente como já sabíamos que é", demarcou a crítica.