Agrofloresta no Riacho Fundo é modelo de preservação ambiental e práticas sustentáveis
Localizado no Parque Ecológico da cidade, espaço é uma verdadeira horta orgânica com plantas alimentícias não convencionais (Pancs) e uma natureza que influencia positivamente na saúde da comunidade
Publicada em 25/05/25 às 08:13h - 4 visualizações
Rádio Rir Brasil - Brasília - Direção: Ronaldo Castro 61 99808 5827
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(Foto: Rádio Rir Brasil - Brasília - Direção: Ronaldo Castro 61 99808 5827)
Peixinho, taioba e ora-pro-nóbis: há quem nunca ouviu falar nessas espécies vegetais que fazem parte das plantas alimentícias não convencionais (Pancs) e podem ser consumidas, mas não fazem parte da alimentação tradicional da maioria das pessoas. Muitas dessas plantas crescem espontaneamente em quintais, terrenos baldios e áreas rurais, sendo pouco conhecidas ou subestimadas - até chegarem a um espaço público e formarem uma grande horta comunitária.
A implantação da horta e da agrofloresta no Parque Ecológico do Riacho Fundo é um grande avanço para o compromisso com a sustentabilidade e a segurança alimentar, segundo a vice-governadora Celina Leão | Fotos: Matheus H. Souza/Agência Brasília
O Parque Ecológico do Riacho Fundo se tornou a primeira unidade de conservação (UC), sob a gestão do Instituto Brasília Ambiental, a receber o projeto de implantação de horta de Pancs e uma agrofloresta. O projeto-piloto surgiu em parceria com a Organização Não Governamental (ONG) Renascer, que aborda a necessidade do combate à fome e, ao mesmo tempo, da promoção da educação ambiental.
Com pouco mais de um ano de funcionamento, o espaço verde conta com uma produção significativa de plantas e até a aparição de abelhas subterrâneas e sem ferrão, incentivando uma produção local de mel. A vice-governadora Celina Leão declarou que a implantação desse projeto no Parque Ecológico do Riacho Fundo é um grande avanço para o compromisso com a sustentabilidade e a segurança alimentar: “Iniciativas como essa mostram que é possível unir preservação ambiental, educação e combate à fome. Além de fortalecer a agroecologia, essa ação traz oportunidades para a comunidade, promovendo o conhecimento sobre o cultivo de alimentos nutritivos e acessíveis”.
Para o presidente do Brasília Ambiental, Rôney Nemer, a importância de conhecer e aprender sobre esse universo natural está nos detalhes. “As hortas Pancs podem ajudar muito no auxílio da alimentação. Elas têm uma fonte de proteína que muitas vezes desconhecemos. Quando me apresentaram a proposta, tive curiosidade imediata de conhecer mais. Esperamos que, em breve, possamos estender a iniciativa para outras unidades de conservação sob nossa gestão”, pontuou.
Modelo de sucesso
“A agrofloresta é uma das melhores maneiras de recuperar áreas degradadas, porque recuperamos a área alimentando as pessoas", diz Jeovane Oliveira
Uma das principais características das Pancs é a riqueza de nutrientes que elas carregam, sendo que algumas têm alto teor de vitaminas, minerais e antioxidantes. Alguns exemplos de espécies encontradas no Parque Ecológico do Riacho Fundo são o melão-de-são-caetano, utilizado para tratar problemas de pele e aumentar a imunidade, e a erva-baleeira, conhecida por ser anti-inflamatória e analgésica.
A professora Leila Abreu, voluntária na horta e diretora da ONG Renascer, destacou a importância do espaço para a realização de pesquisas na área ambiental e educacional, com as diversas espécies que têm sido cultivadas na região: “Como é um parque educativo, as pessoas começam a aprender o que são essas plantas que dão em casa ou no meio do asfalto e acham que é mato. A agrofloresta é um sistema novo de plantação de árvores junto a plantas do Cerrado que crescem conforme a natureza, e isso atenua o clima, fertiliza o solo, preserva as nascentes e não precisa de nada bioquímico ou químico para fazer. É um sistema que tem dado muito certo”.
O agente de Unidades de Conservação Jeovane Oliveira descreveu o projeto de sucesso como um exemplo para outras unidades poderem implementar o sistema e atrair a população para utilizar os parques ecológicos, que têm a função de proteger as áreas verdes, de extrema importância para o Distrito Federal. “A agrofloresta é uma das melhores maneiras de recuperar áreas degradadas, porque recuperamos a área alimentando as pessoas. Não é só plantar árvore, é plantar a árvore que nos alimenta. E a população é a chave disso”, frisou.
Saúde mental
"A agrofloresta é um sistema novo de plantação de árvores junto a plantas do Cerrado que crescem conforme a natureza, e isso atenua o clima, fertiliza o solo, preserva as nascentes e não precisa de nada bioquímico ou químico para fazer", diz a professora Leila Abreu
A produção é consumida de forma local, e atualmente são cerca de dez voluntários que trabalham frequentemente no Parque Ecológico do Riacho Fundo. Quem tem contato com a horta logo percebe técnicas aplicadas a partir de saberes tradicionais, como a não utilização de agrotóxicos, cascas de ovos espalhadas estrategicamente para afastar borboletas e outras ideias que vêm da cultura popular.
O agente da Unidade de Conservação Celso Macedo Costa reforçou que o trabalho desenvolvido carrega importância no equilíbrio do ecossistema, apontando o surgimento de vários animais que antes eram raridade em todo o parque, que é o segundo maior de Brasília, e agora surgem no pequeno espaço. Celso acrescentou, ainda, que muitos voluntários encontram ali o alívio para diversos problemas de saúde: “Eles se curam e se sentem bem, porque vão mexer com a terra e materiais reaproveitados, além de poderem conversar, desabafar e ter uma sociabilidade que às vezes não é suprida em outros lugares”.
Voluntária na agrofloresta, Clara Ueno diz que muitas pessoas manifestam interesse de participar das ações
A servidora pública Clara Ueno, 61, é uma das voluntárias que trabalha sempre pode na agrofloresta. Sempre que vai caminhar no parque e fazer atividades físicas, ela ajuda no que é preciso, na limpeza, poda ou qualquer outra coisa. Mesmo com a educação oriental sendo forte influência para o pensar na comunidade e no cuidado do ambiente, ela afirma nunca ter participado de uma horta desse tipo. “Quando a gente chegou aqui, era tudo árido. Ninguém tinha esperança de que daria certo, a gente ficava trabalhando e as pessoas riam da gente. E hoje não, vem todo mundo querendo participar e as crianças ficam na fila para conseguir um horário de visita. Isso é muito bacana”, observou.
Com as mãos na terra, a voluntária acompanhou a recuperação da área desde o início, e tem sua planta preferida, que é a chaya - uma espécie de espinafre que pode ser consumido refogado. Tudo cresceu, ficou verde e fez uma diferença grande na trajetória de Clara: “É saúde mental, porque daqui eu vou para um ambiente fechado com ar-condicionado e uso muito a parte cognitiva, então a horta é uma forma de extravasar e ganhar saúde. O verde nos recupera; os pássaros, as pessoas ficam alegres. Tudo nos complementa e nos ajuda”, declarou.
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